Leonardo Boff
Teólogo
Não sou membro do PT mas um cidadão que se interessa pelos destinos do nosso pais, nos últimos sete anos moldados pelo governo Lula.
A campanha eleitoral se iniciará oficialmente dentro de pouco. Há o grande risco de que predomine um espírito menor, diria quase infantil, de uma campanha plebicistária entre os feitos do governo de FHC e daquele de Lula. Seria a disputa tola entre o ontem e o anteontem ou entre o atrasado e o velho, como preferem alguns ecologistas. Pois ambos os contendores, na relação desenvolvimento e natureza, manejam o mesmo paradigma, sob severa crítica mundial, por conter o veneno que nos pode matar. Isso só serviria para distrair os eleitores dos verdadeiros problemas que o Brasil e o mundo irão enfrentar.
Uma disputa eleitoral séria, à altura da fase planetária da humanidade e da importância fundamental do Brasil dentro dela, não deveria estar voltada para o passado a ser continuado mas, sim, para o futuro a ser construido coletivamente. Quem apresenta o melhor projeto de Brasil para o nosso povo e em sua relação para com a nascente sociedade mundial? Que contribuição essencial podemos dar face aos cenários dramáticos que se desenham no horizonte?
Permito-me apresentar três sugestões para animar a discussão interna do PT. O lema do encontro nacional - A Grande Transformação - nos remete Karl Polanyi com o clássico livro do mesmo título (1944) no qual mostra como a sociedade virou uma sociedade de mercado, transformando tudo em mercadoria. Não será essa a Grande Transformação pensada pelo PT. Para que seja outra coisa, o partido deve assumir seriamente este fato irrecusável: A Terra mudou porque já estamos dentro do aquecimento global. A roda não pode mais ser parada, apenas diminuir-lhe a velocidade. Se o termômetro da Terra subir para mais de dois graus Celsius, nos próximos decênios, como previstos pelos melhores centro de pesquisa, enfrentaremos no Brasil e no mundo a tribulação da desolação. Muitos projetos já concluidos do PAC poderão ser anulados. Não incluir em todos os planejamentos este dado é mostrar falta de inteligência prática e irresponsabilidade histórica. Do contrário teremos que aceitar a maldição de nossos filhos e filhas e de nossos netos e netas.
Outro dado não menos perturbador é: a insustentabilidade do sistema-Terra. A partir de 23 de setembro de 2008 ficamos sabendo que o planeta Terra ultrapassou em 30% sua capacidade de repor os bens e serviços necessários para a vida. Estamos consumindo hoje o que precisaremos amanhã. Se quisermos universalizar o nivel de consumo das classes médias mundiais, incluidos os oitenta milhões de brasileiros, precisaríamos já agora de três Terras iguais a esta. Este modelo de crescimento, como parece subjacente ao PAC, mostra a sua inviabilidade a médio e a longo prazo. Não é que deixemos de produzir. Devemos produzir mas dentro de um outro paradigma menos depredador do sistema-Terra, com um acordo de respeito à suportabilidade de cada ecossistema e com uma ampla inclusão social, imbuidos todos de uma ética do cuidado, da responsabilidade universal e da busca do bem viver para todos.
Por fim, o PT precisa conscientizar o fato de que o Brasil é, seguramente, o pais-chave para o equilibrio do Planeta. Ele é a potência das águas, o detentor das maiores florestas, as grandes sequestradoras de dióxido de carbono e reguladoras dos climas, com imensa biodiversidade e vastas terras agricultáveis, podendo ser a mesa posta para as fomes do mundo inteiro, com capacidade incomparável de gerar energias alternativas e com um povo altamente criativo, que fez um ensaio civilizatório dos mais significativos, não imperialista, e com uma visão encantada do mundo que lhe permite, no meio das contradições. celebrar suas festas, torcer por seus times e dançar seus carnavais, características essas decisivas para conferir um rosto humano à mundialização em curso.
O futuro passa por nós. Não percebê-lo por ignorância ou distração é não escutar os apelos da Mãe Terra e é defraudar seus filhos e filhas, nossos irmãos e irmãs que apenas pedem singelamente viver com decência.
Teólogo
Não sou membro do PT mas um cidadão que se interessa pelos destinos do nosso pais, nos últimos sete anos moldados pelo governo Lula.
A campanha eleitoral se iniciará oficialmente dentro de pouco. Há o grande risco de que predomine um espírito menor, diria quase infantil, de uma campanha plebicistária entre os feitos do governo de FHC e daquele de Lula. Seria a disputa tola entre o ontem e o anteontem ou entre o atrasado e o velho, como preferem alguns ecologistas. Pois ambos os contendores, na relação desenvolvimento e natureza, manejam o mesmo paradigma, sob severa crítica mundial, por conter o veneno que nos pode matar. Isso só serviria para distrair os eleitores dos verdadeiros problemas que o Brasil e o mundo irão enfrentar.
Uma disputa eleitoral séria, à altura da fase planetária da humanidade e da importância fundamental do Brasil dentro dela, não deveria estar voltada para o passado a ser continuado mas, sim, para o futuro a ser construido coletivamente. Quem apresenta o melhor projeto de Brasil para o nosso povo e em sua relação para com a nascente sociedade mundial? Que contribuição essencial podemos dar face aos cenários dramáticos que se desenham no horizonte?
Permito-me apresentar três sugestões para animar a discussão interna do PT. O lema do encontro nacional - A Grande Transformação - nos remete Karl Polanyi com o clássico livro do mesmo título (1944) no qual mostra como a sociedade virou uma sociedade de mercado, transformando tudo em mercadoria. Não será essa a Grande Transformação pensada pelo PT. Para que seja outra coisa, o partido deve assumir seriamente este fato irrecusável: A Terra mudou porque já estamos dentro do aquecimento global. A roda não pode mais ser parada, apenas diminuir-lhe a velocidade. Se o termômetro da Terra subir para mais de dois graus Celsius, nos próximos decênios, como previstos pelos melhores centro de pesquisa, enfrentaremos no Brasil e no mundo a tribulação da desolação. Muitos projetos já concluidos do PAC poderão ser anulados. Não incluir em todos os planejamentos este dado é mostrar falta de inteligência prática e irresponsabilidade histórica. Do contrário teremos que aceitar a maldição de nossos filhos e filhas e de nossos netos e netas.
Outro dado não menos perturbador é: a insustentabilidade do sistema-Terra. A partir de 23 de setembro de 2008 ficamos sabendo que o planeta Terra ultrapassou em 30% sua capacidade de repor os bens e serviços necessários para a vida. Estamos consumindo hoje o que precisaremos amanhã. Se quisermos universalizar o nivel de consumo das classes médias mundiais, incluidos os oitenta milhões de brasileiros, precisaríamos já agora de três Terras iguais a esta. Este modelo de crescimento, como parece subjacente ao PAC, mostra a sua inviabilidade a médio e a longo prazo. Não é que deixemos de produzir. Devemos produzir mas dentro de um outro paradigma menos depredador do sistema-Terra, com um acordo de respeito à suportabilidade de cada ecossistema e com uma ampla inclusão social, imbuidos todos de uma ética do cuidado, da responsabilidade universal e da busca do bem viver para todos.
Por fim, o PT precisa conscientizar o fato de que o Brasil é, seguramente, o pais-chave para o equilibrio do Planeta. Ele é a potência das águas, o detentor das maiores florestas, as grandes sequestradoras de dióxido de carbono e reguladoras dos climas, com imensa biodiversidade e vastas terras agricultáveis, podendo ser a mesa posta para as fomes do mundo inteiro, com capacidade incomparável de gerar energias alternativas e com um povo altamente criativo, que fez um ensaio civilizatório dos mais significativos, não imperialista, e com uma visão encantada do mundo que lhe permite, no meio das contradições. celebrar suas festas, torcer por seus times e dançar seus carnavais, características essas decisivas para conferir um rosto humano à mundialização em curso.
O futuro passa por nós. Não percebê-lo por ignorância ou distração é não escutar os apelos da Mãe Terra e é defraudar seus filhos e filhas, nossos irmãos e irmãs que apenas pedem singelamente viver com decência.
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