* Ecio Rodrigues
A campanha para se expurgar sacolas de plástico dos supermercados ganha força, tendo em vista a prioridade dada ao tema pelo Ministério do Meio Ambiente. Uma prioridade estranha, diga-se, para um órgão ministerial, parece até coisa de quem tem poucas demandas, mas o fato é que as pobres sacolas parecem que finalmente vão desaparecer.
No entanto a dúvida principal é: o que será usado para substituir as, agora famigeradas, sacolinhas de plástico?
Parece que a maioria acredita na possibilidade das sacolas de lonas substituírem as de plástico, pelo menos é o que se percebe nos supermercados que estão abarrotados de todo tipo de lonas onde estão impressos o mais variado tipo de propaganda corporativa misturada com apelos para sensibilidade ambiental do consumidor.
Todavia, a algo de esquisito com as sacolas de lona que faz com que não sejam bem recebidas pelas pessoas. Não que haja qualquer tipo de problema de sensibilidade com a sociedade brasileira, como a mídia, de vez em quando gosta de sugerir, mas o problema é que essas sacolas de lonas trazem, no mínimo, 4 graves problemas difíceis de serem escondidos pela campanha de sensibilização do consumidor.
O primeiro é que são vendidas. Isto é, o consumidor terá que demonstrar bastante consciência para comprar algo que não faz parte de sua cesta de consumo e do qual não precisa. Mas não é uma coisa qualquer, é uma sacola, cujo designer é simplório e esta impregnada de um monte de propaganda do governo, do supermercado e de alguma entidade ambientalista. Mas terá que ser comprada.
Propaganda corporativa excessiva, ou mesmo que seja em menor quantidade, não é algo que se queira levar para casa assim sem mais nem menos. Esse é o segundo problema com as sacolas de lona. Parece que todos resolveram colocar sua marca na sacola numa atitude que pressiona e, ao mesmo tempo, deixa o consumidor inibido.
Provavelmente em algum momento a guardiã da saúde pública, que prega o emprego de embalagens e todo tipo de matéria-prima inerte, que idolatra o PET e o plástico, pois não atrai microorganismo, a defensora de um ambiente saudável para a população que não entende muito de ecologia e confunde meio ambiente com segurança para o homem, a vigilância sanitária aparecerá proibindo o uso das sacolas de lona, com a justificativa de que, simplesmente, são insalubres.
E aí surge o quarto e definitivo problema que enterrará de vez a alternativa da lona ao invés do plástico. O próprio fundamento do discurso ecológico que sugere ser a lona mais adequada ao meio ambiente que o plástico.
Ocorre que o argumento ecológico é suspeito e frágil, não resiste a uma linha de raciocínio relativamente simples, se não veja-se:
As lonas terão que ser lavadas quase que diariamente, com uso intensivo de detergentes e outro tipo de defensivo para que não contamine a mercadoria que estiver dentro.
No balanço da sustentabilidade a lona não ganha do plástico com diferença suficiente para que a torne alternativa exclusiva. Pior ainda se a lona for fabricada à base de algodão, uma cultura agrícola intensiva em agrotóxicos.
Não há dúvida quanto a emergência em se parar de usar sacolas de plástico. E a melhor alternativa já é comum na maior parte do mundo, que optou pelo emprego das sacolas de papelão há mais de 20 anos.
O papelão, que vem de florestas plantadas para produzir papelão, já demonstrou ser resistente, limpo e, o melhor, possível de ser produzido com sustentabilidade.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista
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