12 de jan. de 2011

Rondônia decreta estado de calamidade na saúde


No principal hospital de Porto Velho, pacientes dormem no chão e esperam meses pela realização de cirurgias
12 de janeiro de 2011 | 0h 00

Gabriela Cabral - O Estado de S.Paulo

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110112/not_imp664985,0.php

A superlotação de pacientes em hospitais de Rondônia levou o governador Confúcio Moura (PMDB) a decretar estado de calamidade e recorrer ao Ministério da Defesa. Hoje, uma equipe interministerial composta por representantes dos ministérios da Saúde, Integração Nacional e Defesa devem chegar a Porto Velho para avaliar a situação.

O governador pede que seja montado um hospital de campanha para retirar os pacientes do pronto-socorro do hospital João Paulo II, a principal unidade de emergência do Estado, do chão. O hospital tem 137 leitos comuns e 10 de UTI, mas a situação fugiu ao controle, com pacientes amontoados no chão aguardando até meses por cirurgias.

Funcionários do local dizem que o hospital sempre teve grande demanda, mas que nos últimos meses a situação ficou insustentável. A maioria atribui o aumento da procura ao crescimento populacional decorrente da instalação das usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, que atraiu milhares de trabalhadores de todo o País.

A dona de casa Leonice Reis, cujo marido aguarda atendimento médico há 17 dias para retirar uma bala no fêmur, conta que dorme no chão. A enfermaria em que se encontra, dividida com mais cinco pacientes além dos acompanhantes, vive molhada, por causa da chuva que invade o local. "Já me disseram que eu não posso ficar aqui, mas meu marido não consegue se levantar nem para ir ao banheiro", conta.

Entre as causas da crise da saúde está a falta de leitos nos hospitais do interior do Estado. Nas cidades de Cacoal e São Francisco, dois hospitais estão prontos, mas aguardam para serem aparelhados.

Além do reforço do Exército, o governador quer também recorrer a recursos federais para garantir mais investimentos na área. Segundo ele, o orçamento aprovado para este ano não é suficiente.


Jornal Nacional: Governo de Rondônia decreta estado de calamidade pública na saúde

Edição do dia 11/01/2011
11/01/2011 21h32 - Atualizado em 11/01/2011 22h31

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/01/jn-no-ar-mostra-situacao-precaria-de-hospitais-publicos-em-rondonia.html

(vídeo disponível no link acima)

A equipe do JN no Ar foi a Porto Velho, Rondônia, para mostrar a situação crítica dos hospitais do estado, que levou o governador a decretar calamidade na saúde.

A situação dos hospitais visitados pela equipe do JN no Ar é grave e foram registradas cenas dramáticas. As pessoas estão realmente sofrendo, sem que tenha acontecido nenhum problema grave que justifique um amontoado de pacientes nos dois principais hospitais do estado à espera de atendimento.

Ao todo são sete profissionais e 400 quilos de equipamentos. O avião do JN no Ar decolou do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim na última segunda-feira (10), às 21h15. O avião atravessou 2,7 mil quilômetros, voou três horas e meia até Porto Velho para acompanhar a crise da saúde em Rondônia.

A reportagem começa em Porto Velho no único hospital público do estado com uma emergência preparada para atender a casos mais graves como vítimas de acidentes de trânsito, pessoas com ferimentos à bala ou faca. É o Hospital Estadual João Paulo II. Às 7h, a equipe entrou para ver como está a situação.

Logo na entrada, um susto: a sala que deveria ser a sala de espera do hospital, um lugar em que as pessoas esperam sentadas para serem atendidas pelo médico está lotada. Todas as pessoas que estão no local estão internadas, inclusive, as que estão sentadas: um rapaz está sentado tomando soro, esperando uma vaga no quarto para ser internado.

Ao lado, uma situação ainda pior: um senhor deitado no chão esperando uma vaga no quarto, tomando o soro, que está pendurado na parede. Seu Arthur, de 65 anos, está sobre um lençol. Não consegue nem falar de tanta dor no peito e no abdômen.

“Estou esperando ele ter uma melhora para levar ele para Minas”, conta a mulher de Artur, Cícera José dos Santos.
O servente de pedreiro Francisco está oficialmente internado há 24 horas na cadeira. Parece cenário de guerra. O Hospital João Paulo II tem 150 leitos, todos lotados. Os pacientes não param de chegar e vão ocupando macas e colchões de ar espalhados pelos corredores.

Raniete, de 28 anos, tinha acabado de sofrer um acidente de trânsito grave. "Não tem vaga. Não tem onde atender. O atendimento vai ser no chão, sempre é no chão", lamenta o enfermeiro Romes Mamede.
O hospital recebe, em média, 200 pacientes por dia. A maioria vem de cidades do interior do estado. Mas eles chegam também do sul do Amazonas, do Acre e até da Bolívia.

Seu Joaquim não conseguiu atendimento na cidade dele. Viajou 300 quilômetros para tratar um câncer na próstata. Agora está no chão, em frente à porta da UTI, sem esperança.

O neurocirurgião diz que há três dias tenta levar um paciente para fazer o exame em uma clínica conveniada. O doente está entre a vida e a morte. "A situação é que nós temos pacientes graves. Na minha especialidade, minutos representam uma vida”, conta o neurocirurgião Marcos Madeira.

“Claro que eu me sinto humilhado. Sou trabalhador, sou um cidadão brasileiro”, reclama um paciente enquanto aguarda o atendimento.

Porto Velho tem outros hospital de grande porte e está lotado. No Hospital de Base, quase mil pessoas estão na fila de espera para operar. E das nove salas de cirurgia, cinco estão fechadas.

Um homem, acorrentado à cama é um preso, que, segundo a direção do hospital, espera uma cirurgia há dez meses. Ele está com as duas pernas quebradas.

Dona Isolina, de 100 anos, espera há um mês. "Não sei como eu faço mais, estou desesperada", lamenta a filha de Dona Isolina, Esmerinda da Graça de Jesus.

No Hospital João Paulo II, das três salas de cirurgia, uma está fechada. No local, há mais de 300 pacientes na fila.
A UTI é considerada pelos médicos como a mais tranquila do hospital. Por incrível que pareça, a UTI é a única parte do pronto-socorro que está funcionando de maneira adequada. São 14 leitos, todos ocupados. O problema é conseguir vaga no lugar.

O governador recém-empossado, Confúcio Moura (PMDB) é médico e já foi secretário de Saúde de Rondônia. Ele decidiu decretar estado de calamidade na saúde. "Uns dão prioridade à educação, outros ao transporte, outros à questão ambiental, mas em Rondônia, a saúde não foi prioridade em quase nenhum governo", afirmou.
O governador pediu ajuda ao Governo Federal. Quer um hospital de campanha com médicos e enfermeiros para fazer um mutirão de cirurgias. Enquanto a situação não melhora, os profissionais fazem o que podem. "A cada dia que viemos aqui trabalhar, morremos a cada dia um pouco, porque estamos vendo a situação e não podemos fazer nada”, diz uma enfermeira.

Pelo menos seis representantes do Ministério da Saúde, da Defesa e da Integração Nacional são esperadas em Porto Velho para verificar toda a situação mostrada pelo JN no Ar. O governador disse que vai investir em caráter emergencial para a contratação de médicos, enfermeiros e, também, para a compra de equipamentos e medicamentos para a saúde pública em Rondônia.

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